A casa Nuvem receberá nesta terça-feira, 6, o projeto contemplado pela Lei Nelson Seixas: Abayomi: produção de bonecas, a história de uma menina negra e os encontros que trazem esperança. Esta é a segunda sessão do projeto junto às crianças dque fazem parte do projeto social Maquininha do Futuro.
A contação de história musicada, com dança e artesanato propõe uma viagem no tempo, recontando a história da humanidade que começa no continente africano, até chegar no Brasil, através do processo da diáspora africana, e desembarca em São Luís do Maranhão, onde a boneca preta, feita sem cola ou costura, surgiu pela primeira vez.
Baseada na obra literária “Vida que Voa”, de Lena Martins, também criadora da boneca Abayomi, a contação fala sobre saberes ancestrais transferidos por gerações através da oralidade, por meio de um singelo diálogo entre a menina Isadora, personagem do livro, e sua avó.
Para contar essa história o projeto, idealizado pela cantora, atriz, artesã e produtora cultural Elis Bohrer, através de sua produtora Gira Promoções Artísticas e Musicais, recebe a presença do ator e bailarino David Balt, da atriz e produtora cultural Chris Martins, ao violão, Sandro Soares, na percussão, Rogerio Pinheiro, a tradução em libras de Gleiber Francisco, multimídia, Rafaela Cândido, figurino e ambientação de Cibele Sampaio e assitência de produção de Nicole Reis e Laine Deidi.
São esperadas cerca de quarenta crianças no espaço cultural e algumas que não fazem parte do projeto social.
“Facilitar o acesso à cultura afro-brasielira para essas crianças é dizer a elas que existe maneiras de se viver, diferente do que nos é posto, pronto, é um convite a pensar criticamente, e de maneira muito poética, musical, dizer para as crianças negras que elas possuem lugar no mundo e paras as brancas que elas podem conviver em harmonia com o diverso", explica Elis Bohrer, proponente do projeto.
Em meio às tramas da cultura afro-brasileira, um nome se destaca pela força criativa e pelo compromisso com a ancestralidade: Lena Martins. Artista, educadora e referência na valorização da cultura negra no Brasil, ela é a criadora da boneca Abayomi — um símbolo de afeto, resistência e pertencimento.
Diferente das histórias distorcidas que circularam ao longo do tempo, a Abayomi não é fruto da escravidão ou de improvisos forçados por falta de recursos. A boneca foi criada por Lena Martins no Brasil contemporâneo como uma forma de resgatar, honrar e projetar a identidade negra com dignidade e consciência histórica. A palavra "Abayomi", de origem iorubá, significa “meu encontro precioso”, e expressa o propósito maior da criação: gerar encontros afetivos, educativos e culturais.
A boneca, feita artesanalmente com retalhos de tecido preto, sem costuras ou traços definidos, simboliza a força da coletividade e da ancestralidade africana. Lena desenvolveu a Abayomi como parte de uma pedagogia afrocentrada, voltada para o empoderamento de crianças negras, o fortalecimento da autoestima e a valorização das raízes africanas na formação da identidade brasileira.
Mais do que um brinquedo, a Abayomi é um instrumento político e cultural. Por meio dela, Lena Martins tem promovido oficinas, vivências e formações em escolas, comunidades e instituições culturais, contribuindo para o combate ao racismo e à invisibilidade das narrativas negras na história oficial do país.
Mas a atuação de Lena Martins vai além do campo artístico. Ela tem uma trajetória marcada pelo ativismo político e pela luta por justiça social. Esteve à frente de ações importantes do movimento de mulheres negras, como a Marcha da Mulher Negra, que desde os anos 1990 denuncia o racismo, o sexismo e as desigualdades históricas enfrentadas pelas mulheres negras no Brasil.
Sua participação foi determinante na crítica à celebração dos 100 anos da chamada “abolição da escravidão” em 1988. Para Lena, não havia o que se comemorar diante da realidade de exclusão, pobreza e violência que continuava a atingir o povo negro. Ela foi uma das vozes mais firmes a afirmar que a abolição, como foi feita, foi incompleta e simbólica, não garantindo terra, trabalho ou cidadania para os libertos. Esse posicionamento impulsionou reflexões profundas dentro do movimento negro, reforçando a urgência de políticas de reparação e de ações afirmativas.
Ao criar a Abayomi e ao se posicionar politicamente com coragem e firmeza, Lena Martins deu forma concreta ao conceito de “resistência afetiva”. Sua obra é um gesto de denúncia, mas também de esperança. Cada boneca representa uma história resgatada, um vínculo recriado, uma luta reafirmada.
Lena Martins é, portanto, uma referência incontornável na arte e na política afro-brasileira contemporânea. Sua trajetória inspira não apenas pela criação estética, mas pelo compromisso ético com a memória, com a justiça e com a libertação de seu povo.
Elis Bohrer é uma artista plural, cuja potência criativa reverbera em diferentes linguagens e territórios. Cantora, compositora e produtora cultural, sua trajetória se firma pela entrega sensível à arte e pelo compromisso com uma estética que pulsa memória, identidade e transformação.
Com uma presença marcante na cena cultural, Elis constrói obras que atravessam o corpo e a voz como instrumentos de expressão política e poética. Sua música carrega ancestralidade, crítica social e afetividade, resultando em composições que dialogam com o presente sem perder de vista as raízes que sustentam sua criação.
Além da música, Elis Bohrer também atua como produtora cultural, sendo responsável por projetos que valorizam a arte como ferramenta de resistência e encontro. Suas iniciativas transitam por palcos, ruas, redes e territórios periféricos, promovendo a circulação de saberes e estéticas plurais, especialmente aquelas silenciadas pelas estruturas dominantes.
Entre seus trabalhos está “Samba e Ancestralidade”, projeto que propõe diálogos entre a música e a memória afro-brasileira por meio do samba como linguagem artística e histórica. Também idealizou e produziu “Abayomi – a história de uma menina negra e os encontros que trazem esperança”, que reúne narrativa, performance, música e artesanato, atuando na formação cultural com base em referências afrocentradas.
Outros projetos assinados por Elis incluem “Música na Feira e Mulheridades”, que leva apresentações musicais para espaços públicos como feiras livres e discute experiências e vivências de mulheres por meio da arte e da palavra. “A Casa” que propõe reflexoes dobre a individualidade do corpo feminino, enquanto “Batuca Brasil” trabalha com percussão e cultura popular. Já “A Bossa de Johnny” mergulha na estética da bossa nova, explorando repertórios e interpretações de um dos criadores do estilo musical, Johnny Alf.
Embora formada em jornalismo, é no campo da arte que Elis Bohrer encontra sua maior força de expressão. Sua trajetória é atravessada pela escuta atenta do mundo, pelo cuidado na construção de experiências culturais e pela potência de uma voz que não apenas canta, mas convoca, denuncia, encanta e inspira.
Elis não apenas ocupa o espaço artístico — ela o transforma. Seja compondo, produzindo ou se apresentando, sua atuação revela um compromisso profundo com a liberdade criativa, com a coletividade e com a beleza como gesto político.
Datas: 06/05
Horário: 14h
Local: Casa Nuvem
Classificação: Livre (Crianças de 6 a 11 anos acompanhadas de responsáveis)
Este projeto é realizado com os recursos da Lei Municipal nº 9.440-2005, Lei Nelson Seixas.
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