O projeto “Na Sua Cara” estreia nesta terça-feira, 13, às 20h, na Biblioteca Municipal de Rio Preto. Ele propõe a produção e montagem do texto “Crave” (1998) de Sarah Kane, através do qual reuniu-se ecos dos referenciais basilares da arte da performance do século XX e início do XXI e as assimilações da arte atual sob um entendimento de que a contemporaneidade é sempre uma relação singular com o tempo, porque nela consta um movimento de aproximação e afastamento. Assim, a produção quer emergir um contraponto entre dois contextos: uma realidade desesperançada circunscrita em um contexto hegemônico de um lado e a nossa conjuntura atual de outro, considerando a nossa realidade pós-pandêmica em um território que passou por inúmeras violências desde o momento em que um projeto epistemicida e extrativista foi posto em prática disfarçado de civilização.
Através de uma montagem que se difere de uma leitura encenada, o espetáculo procura reforçar o caráter profundamente musical e polifônico da dramaturgia, sendo que o próprio texto escrito opera como um objeto de manipulação e como uma partitura musical combinada com estante, microfone e outros recursos sonoros. A peça comporta quatro “personagens” designados por letras (A, B, C e M), sendo quatro vozes que não surgem de um lugar reconhecível e que não revelam personalidades identificáveis. Não há um enredo e o conjunto funciona como uma espécie de coral, conferindo a Crave uma tessitura de dissemelhantes emoções, com temas recorrentes à arte, notadamente o amor e a morte.
Sarah Kane (1971-1999) eÌ considerada uma das criadoras mais importante da dramaturgia inglesa do final do século XX. Autora de obras tidas como provocadoras, estonteantes, perturbadoras, tais como Blasted e 4.48 Psychosis, Kane suicidou-se aos 28 anos, após diversas internações por depressão. A peça Crave, estreada em 13 de agosto de 1998 em Edimburgo, traz um caos de vozes sob uma narrativa estilhaçada, revelando um contexto hostil ao redor de quem discursa, tocando em muitos pontos caros aÌ€ temática feminista, em especial, aÌ€ violência sexual.
Levando em conta o discurso fragmentado e rítmico de “Crave”, o artista transdisciplinar Tales Frey optou por uma encenação que opera como uma composição sonora devido ao caráter polifônico da dramaturgia e, embora o texto seja apresentado na íntegra, as vozes são distorcidas, acumuladas e gravadas para que, após cada apresentação, uma instalação sonora possa ser contemplada pela audiência, contando com a colaboração em tempo real do artista Dré Guines, que assume a trilha e engenharia de som. A ambientação cênica é tridimensional e adota uma lógica de fruição de uma grande escultura, portanto é possível que a audiência possa assistir ao espetáculo de diversos pontos de vista.
Ainda, há a possibilidade de contemplar a peça através dos seus vestígios sonoros e materiais que permanecem expostos antes e após cada apresentação, onde a semiótica independe de um formato tradicional das artes cênicas, havendo fusão entre elementos da música noise, da instalação e de variadas manifestações das artes visuais.
A peça original comporta quatro “personagens” designados por letras (A, B, C e M), sendo quatro vozes que não surgem de um lugar reconhecível e que não revelam personalidades identificáveis, sendo as mesmas interpretadas por Cibele Sampaio, Edivaldo Vitorino, Luiz Thiago Mota e Maria Clara Aoki. Não há um enredo e o conjunto funciona como uma espécie de coral, conferindo a “Crave” uma tessitura de dissemelhantes emoções, com temas recorrentes aÌ€ arte, notadamente o amor e a morte.
Dia: 13/8/2024
Horário: 20h
Local: Biblioteca Municipal de São José do Rio Preto (Praça Jornalista Leonardo Gomes, 01 - Centro)
Classificação: para maiores de 18 anos
Entrada: gratuita
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