17°C 24°C
São Paulo, SP
Publicidade

Mulheres com idade entre 20 e 39 anos são as principais vítimas de violência em Rio Preto

Violência acontece principalmente dentro de casa

21/08/2023 às 15h12 Atualizada em 21/08/2023 às 15h51
Por: Elis Bohrer
Compartilhe:
Mulheres com idade entre 20 e 39 anos são as principais vítimas de violência em Rio Preto. Foto: banco de dados de imagens livres
Mulheres com idade entre 20 e 39 anos são as principais vítimas de violência em Rio Preto. Foto: banco de dados de imagens livres

Na última semana, Rio Preto acompanhou, através da imprensa, o fatídico caso da médica, Thallita da Cruz Fernandes, de 28 anos, que foi encontrada morta em seu apartamento. A jovem perdeu a vida ao tentar terminar um relacionamento. Não aceitando o rompimento, o namorado de Thallita tirou sua vida a facadas e em seguida escondeu o corpo dentro de uma mala. Assim como muitos casos registrados no município, Thallita entra para uma triste estatística. Os dados do sistema de Vigilância de Violência Interpessoal e Autoprovocada, da Secretaria de Saúde de Rio Preto apontam que as mulheres mais atingidas pela violência em Rio Preto possuem idade entre 20 e 39 anos. 

Continua após a publicidade

Segundo um relatório produzido pelo coletivo feminista Lugar de Mulher é Onde Ela Quiser, entre 2021 e 1 de agosto de 2023, 1.721 mulheres com idade entre 20 e 29 anos e e 1.795, com idade entre 30 e 39 sofreram algum tipo de violência no município. 

“É importante compreender que nós temos registros de violência contra pessoas do sexo feminino de todas as faixas etárias, incluindo de 0 a 1 ano de idade, mas a divulgação dos dados de pico, ou seja na faixa etária em que se concentra o maior número dessas violências é significativa para alertar as mulheres que se enquadram no perfil das vítimas, no sentido de que ao primeiro indício de violência ela esteja atenta e possa procurar ajuda antes que o pior aconteça”, disse Tidda Vernucci, ativista e fundadora do coletivo. 

Dos 7.722 casos de violência contra a mulher analisados, 6.819 aconteceram dentro de casa, seguido de 435 em vias públicas e 187 em comércio/serviços (no local de trabalho). As violências mais praticadas contra as pessoas do sexo feminino na cidade é a física, que correspóndeu a 2.747 casos, 2.551 foi o número de violência psicológica (ou moral) em Rio Preto e sexual, 495. 

Os cônjuges lideram a lista dos agressores de mulheres em Rio Preto, durante pelo menos os últimos dois anos e meio, 1.959 mulheres foram agredidas pelo próprio companheiro. Em segundo lugar vem os ex-companheiros, responsáveis por 1.487 dos registros de agressões na cidade. 

Ciclo de violência contra mulher 

De acordo com o Instituto Maria da Penha  a violência contra mulher possui um padrão identificável, embora cada agressor possua sua pessoalidade de “modus operandi”. Existem três fases no ciclo de violência que frequentemente são praticadas pelos agressores. Veja! 

Fase 1 do ciclo de violência contra mulher - Aumento da Tensão 

O homem se mostra irritado e tenso por questões insignificantes, podendo ter acessos de raiva. Nesta fase o agressor tenta humilhar a vítima. Ele pode destruir objetos e realizar ameaças. 

Segundo o Instituto, “a mulher tenta acalmar o agressor, fica aflita e evita qualquer conduta que possa “provocá-lo”. As sensações são muitas: tristeza, angústia, ansiedade, medo e desilusão são apenas algumas”. 

É muito comum que neste primeiro momento a vítima seja conduzida a pensamento de negação, ou seja, ela não aceita que a violência esteja acontecendo, por isso tenta esconder os fatos de familiares e pessoas mais próximas. Se sente culpada para tentar justificar o comportamento violento do agressor. É comum que diga para si mesma e para outra pessoas frases como “ele teve um dia ruim no trabalho”, exemplificando. 

Não há um prazo para a duração desta fase. Podendo ser dias, meses ou mesmo anos até que a violência passe para a fase dois. 

Fase 2  do ciclo de violência contra mulher - Ato de violência 

Na segunda fase o agressor não consegue mais conter sua agressividade e limitar a dar socos nas paredes, ou quebrar objetos (entre outras ações da fase 1). Nesta fase as agressões verbais, psicológicas, morais e patrimoniais acontecem mais claramente até se materializarem em agressão física. 

Condicionada a este agressor, na maioria das vezes a mulher se sente impossibilitada de reagir. É como se passasse por um processo de paralisia. 

“Aqui, ela sofre de uma tensão psicológica severa (insônia, perda de peso, fadiga constante, ansiedade) e sente medo, ódio, solidão, pena de si mesma, vergonha, confusão e dor”, conforme cartilha do Instituto Maria da Penha. 

Nesta mesma fase a mulher pode procurar por ajuda como realizar uma denúncia, sair de casa, se esconder na casa de parentes ou amigos, podendo assim se distanciar do agressor. 

Fase 3 do ciclo de violência contra a mulher  - Arrependimento e comportamento carinhoso 

A “Lua de mel”, nome conhecido da fase 3 de violência contra mulher, é uma das mais importantes deste ciclo de violência que precisa ser quebrado. É nessa fase que o agressor se mostra arrependido das agressões que praticou contra sua companheira, se apresentando mais carinhoso e acolhedor, disposto a tudo pela reconciliação. 

Confusa e pressionada a manter a relação, seja pela sociedade ou porque muitas vezes existem filhos envolvidos, a mulher pode voltar atrás e retornar para as garras do agressor, acreditando nas palavras dele quando diz que “vai mudar”. 

“Há um período relativamente calmo, em que a mulher se sente feliz por constatar os esforços e as mudanças de atitude, lembrando também os momentos bons que tiveram juntos. Como há a demonstração de remorso, ela se sente responsável por ele, o que estreita a relação de dependência entre vítima e agressor”, alerta o Instituto. 

A vítima fica confusa, podendo desenvolver diversos transtornos psicológicos e sentimentos como confusão, ilusão, medo, entre outros. A “Lua de mel” termina e o agressor retorna para a fase um, até que um dia a agressão física poderá ser tão intensa que a vítima pode não suportar e ir a óbito ou ficar com sequelas, como a própria Maria da Penha, nome da Lei, ficou. 

Violência contra a mulher - Caso Maria da Penha 

Em 1983 o companheiro da farmacêutica Maria da Penha disparou um tiro de espingarda contra ela. Maria sobreviveu, porém ficou paraplégica e ao retornar para a casa, depois de intensos tratamentos no hospital (quatro meses), foi submetida a violência novamente. 

Marco Antonio Heredia Viveros manteve Maria da Penha em cárcere por 15 dias. Nessa segunda tentativa de assassinato ele tentou eletrocuta-la durante o banho, Maria sobreviveu novamente. 

Maria da Penha precisou do apoio de amigos e da família para conseguir escapar do companheiro e provar juridicamente as constantes violências que sofria. Como a Lei ainda não existia, para sair de casa ela precisou de muita ajuda para que sua saída não configurasse abandono do lar e ela perdesse a guarda de suas filhas. 

O agressor insistia na tese de que o tiro que deixou Maria paraplégica foi de um assaltante. Mas a tese caiu por terra depois de um trabalho de pericial. O julgamento aconteceu somente em 1991, oito anos depois do tiro. Em 1996 Marco Antonio foi sentenciado a 10 anos e 6 meses de prisão, porém o economista recorreu alegando irregularidades processual e a sentença não foi cumprida. 

Maria da Penha escreveu e publicou o livro “Sobrevivi... posso contar” (publicado em 1994 e reeditado em 2010), em que detalhou as agressões e sua luta por justiça. Em 1998 o caso ganhou repercussão internacional. Embora houvesse pressão internacional pela falta de direitos humanos no caso, o estado brasileiro se omitiu e não interviu no processo de Maria da Penha. 

Em 2001 o estado brasileiro foi responsabilizado por negligência, omissão e tolerância em relação à violência praticada contra as mulheres brasileiras. O país recebeu orientações da Comissão Interamericana dos Direitos Humanos e começou a discutir o tema. 

Debates envolvendo o Legislativo, o Executivo e a sociedade, ocorreram até que o Projeto de Lei n. 4.559/2004 da Câmara dos Deputados chegou ao Senado Federal (Projeto de Lei de Câmara n. 37/2006) e foi aprovado por unanimidade em ambas as Casas. 

Em 7 de agosto de 2006 o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) finalmente sancionou a Lei Maria da Penha. 

Como denunciar casos de violência contra mulher em Rio Preto 

Confira alguns canais de denúncia para os casos de violência contra mulheres. 

Disque 190
Disque 180
Disque 100
Disque denúncia: 0800 770 2141
WhatsApp: (61) 9610-0180 (todo o Brasil)
Cram 1:  (17) 9 9708-2047 (das 8h às 17h)
Cram 2: (17) 9 9646-8909 (das 8h às 17h)
SOS Racismo:  (17) 3234-3283
Central de Interpretação de Libras: (17) 9 9737-5606
Setor de Conselhos:  (17) 3231-5226 ou (17) 9 9709-1162
Patrulha Maria da Penha (24h): Disque 153
DDM: (17) 3233-2910 (das 8h às 18h)

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
Sem foto
Sobre o município
Ver notícias
São Paulo, SP
16°
Tempo nublado

Mín. 17° Máx. 24°

16° Sensação
5.66km/h Vento
88% Umidade
0% (0mm) Chance de chuva
05h33 Nascer do sol
06h10 Pôr do sol
Qua 31° 20°
Qui 31° 20°
Sex 27° 19°
Sáb 20° 19°
Dom ° °
Atualizado às 23h06
Publicidade
Publicidade
Anúncio
Economia
Dólar
R$ 5,60 +0,04%
Euro
R$ 6,10 +0,04%
Peso Argentino
R$ 0,01 +0,19%
Bitcoin
R$ 388,608,06 -0,44%
Ibovespa
131,005,25 pts 0.78%
Publicidade
Anúncio
Publicidade
Anúncio
Publicidade
Anúncio
Publicidade
Lenium - Criar site de notícias