É falta de políticas culturais, educacionais, caso de segurança pública, ou tudo junto? Como explicar os múltiplos comportamentos machistas de um município que só cresce em extensão territorial, mas permanece conservador no campo das ideias? Muitas violências são cometidas contra as mulheres diariamente em São José do Rio Preto, muitas delas são denunciadas, outras subnotificadas. O que se sabe é que em todo e qualquer espaço há mulheres sendo oprimidas na cidade.
O último relatório anual de indicadores de violência contra a mulher levantado pelo Conselho Municipal dos Direitos das Mulheres de Rio Preto apontou um crescimento significativo de ocorrências no município. O texto que se refere ao período entre 2019 e 2022, é objetivo:
"As notificações de violência física, sexual, tortura, moral e psicológica aumentaram nos anos da pandemia, sendo as notificações de 2020 e 2021, 19% 48% respectivamente maiores que em 2019 (Fig. 2). No entanto, o aumento de casos continuou no ano de 2022, mesmo com a retomada de atividades presenciais. Houve 32 % de aumento de 2022 emrelação à 2021 e 96 % de aumento em relação ao período pré-pandemia."
Os apontamentos para 2023 ainda não foram divulgados, porém sabe-se que em nível estadual a violência contra a mulher só aumenta. Somente no mês de julho deste ano (2023) São Paulo registrou 7.358 ocorrências policiais de ameaça de morte (contra mulheres), segundo dados da Secretaria de Estado dos Negócios da Segurança Pública de São Paulo.
Em Rio Preto o machismo é praticado em diversas camadas, desde as mais superficiais, como nas escolas, empresas, na política, até nas mais profundas, como quando uma mulher tenta terminar um relacionamento e apanha por isso, ou quando uma mulher fica embriagada e termina estuprada por isso, ou mesmo como o recente caso da jovem Ana Cristina, morta pelo próprio padrasto que a abusava sexualmente.
As mulheres rio-pretenses convivem com o medo diariamente. Todos os dias somos bombardeadas por uma série de notícias ora contando sobre uma mulher queimada viva, vezes narrando a tentativa de feminicídio através de faca de outra e a pior das notícias, o feminicídio consumado.
No cotidiano temos mulheres cometendo machismo contra outras mulheres. A pergunta que não quer se calar é, por que uma mulher se sentir livre incomoda tanto a sociedade rio-pretense?
Desde cedo os meninos da cidade aprendem que são superiores as meninas. Em uma roda de conversa você não pode ser uma mulher espontânea que logo pensam que você é fácil ou está afim do namorado ou marido de alguém. O riso da mulher incomoda, a roupa da mulher incomoda, a voz da mulher incomoda.
A mulher conservadora de Rio Preto vive às margens de seus homens, sendo fieis escudeiras, "pau para toda obra", disponíveis para realizar todas as suas vontades e desejos, subservientes e mesmo humilhadas diariamente preferem seguir adulando seus companheiros à despertarem para sua própria realidade, para o quão grandes seres são, para como o ser feminino é maravilhoso e potente!
Desta maneira, com devoção ao sagrado "macho", em nome da perpetuação da família tradicional brasileira e suas crenças religiosas criam seus filhos e filhas para servir a um sistema que se volta contra ela mesma a todo momento, repetidas vezes, e, de geração em geração, as mulheres vão sendo mortas em Rio Preto. Como um poder hierárquico os pais passam seus "poderes" para os filhos homens e a sociedade conservadora, que vota em maioria esmagadora na extrema direita, de Bolsonaro, do ódio, da bala, do machismo e da opressão, se refaz.
Que homens estamos educando em Rio Preto?
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