Um grupo pequeno de amigos decidiram de unir para reivindicar a legalização e descriminalização da maconha em Rio Preto. O movimento crescer, ganhou vários adeptos e coletivos, e hoje se tornou a 1ª Marcha da Maconha Rio Preto, manifestação que acontecerá neste sábado, 5 de agosto.
A movimentação gira em torno de diversas frentes, desde o uso medicinal, as questões sociais que envolvem sobretudo a pessoas negras, até a liberdade do uso pessoal, popularmente conhecido como recreativo. É assim, levantando a bandeira da liberdade, do amor, da paz e do direito à informação que os organizadores da Marcha da Maconha vão às ruas.
"Foram muitos meses de reuniões, compreensão do movimento, levantamento de pesquisa, de dados e informações com o apoio de biólogas, médicos, advogados, ativistas pelos direitos humanos, ativista na luta contra o racismo e ouvindo feministas que compreendemos o quão significativo é abrirmos o diálogo sobre esse tema tão estigmatizado pela sociedade mais conservadora da cidade", disse Tiago Alves, organizador da Marcha da Maconha.
A concentração da Marcha está marcada para às 14h20, em frente à Prefeitura Municipal de Rio Preto. Haverá espaço para falas e música (som). Em seguida, ás 16h20, os manifestantes farão uma caminhada de paz e amor sentido o Anfiteatro Nelson Castro, onde acontecerão diversas intervenções artísticas.
"Não é só para fumar q nos marchamos! Marchamos pela a vida, por liberdade, saúde. Marchamos pela a vida, principalmente pelas as mais afetadas, q sao os pretos e pobres das favelas e periferias. Marchamos pelo o fim de todas as formas de opressão, injustiças e Preconceitos. Lutamos pela a legalização da MACONHA para uso medicinal, social, espiritual, sacramentado, lúdico e terapêutico, reconhecendo que o cultivo caseiro e associativo deve ser regularizado e estimulado enquanto política pública, sendo prioritário frente a exploração comercial.
Pra quem não sabe a proibição é racista. A política de guerra as drogas é uma farsa, trata se de uma guerra não contra as drogas e sim contra corpos negros e periféricos, onde a morte e o encarceramento é uma política oficial do Estado Brasileiro, e segue padrões específicos de classe, raça e gênero.
A Marcha da Maconha Rio Preto se posiciona a favor do movimento negro, da pauta LGBTQIAPN+, da agenda feminista, da luta antimanicomial e anticapacitista, do movimento indígena, da luta por moradia social, do movimento pela a reforma agrária e dos movimentos de desencarceramento."
Dia: 5/8/2023
Horário: 14h20
Local: Em frente a Prefeitura Municipal de Rio Preto (Avenida Alberto Andaló)
A maconha é uma erva muito antiga, que ultrapassou gerações, sobreviveu aos tabus e chega em 2023 sendo destaque, inclusive na 17ª Conferência Nacional de Saúde, realizada entre 2 e 5 de julho deste ano, em Brasília (DF) e terá sua legalização julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 2 de agosto. É um ano decisivo para o avanço ou retrocesso da pauta no Brasil.
Para maior compreensão da história da maconha no Brasil e no mundo, traçamos a cronologia, acompanhe!
A maconha surgiu em pelo menos 2,5 mil anos a.C - É nativa da Ásia Central e foi uma das primeiras plantas utilizada para fins diferentes da alimentação, era usada na produção de tecidos, cânhamos e cordas
Cabral - Há indícios de que a maconha foi usada na fabricação das velas das caravelas que trouxeram os portugueses até o Brasil, em 1.500.Cerca de 800 toneladas de cânhamos foram trazidas junto com Pedro Álvares Cabral e cia.
O fato é que,na Renascença, a maconha foi um dos principais produtos agrícolas da Europa. No século XV, teve grande influência na mudança de mentalidades, pois tanto os primeiros livros foram impressos em papel de cânhamo quanto os gênios da arte pintavam sobre telas de suas fibras. Canvas, palavra usada em várias línguas para designar “tela” é uma corruptela holandesa do latim ‘cannabis’: diz-se ‘oil on canvas’ para as pinturas feitas em ‘óleo sobre tela’;
A maconha foi utilizada pela burguesia inglesa até o século 19;
No século XIX a maconha era vendida livremente em farmácias (boticas) brasileiras. Se prometia curar tosse, asma, rouquidão, insônia e outras enfermidades;
O Brasil foi o primeiro país do mundo a proibir a maconha e não os EUA, como ouvimos frequentemente;
Se de um lado a antropóloga Vera Rubim defende a tese de que maconha foi trazida para o Brasil pelos portugueses, outros historiadores defendem que a erva veio de países africanos, junto com as pessoas negras que foram escravizadas no país, sendo assim, não há um consenso sobre isso;
Ainda no século XIX, no Brasil, a maconha foi dividida em dois usos: medicinal e comercial (pelas elites) e para fumo (camadas populares, negros e índios);
Decretos de 1656 e 1700, assinados pelo rei Dom João V , comprovam que houve incentivo do estado para o cultivo da maconha em fazendas do Rio Grande do Sul;
Com a proximidade da “revogação da escravidão “, começou a repressão aos cultos e hábitos das pessoas negras que viviam no Brasil. Foi criada a polícia de costumes (1866). Anos depois , em 1888, foi “extinta a escravidão” no Brasil.
A polícia de costumes foi criada para reprimir festas com cachaça, músicas, danças afro-brasileiras e a maconha, pois era necessário criar praticas para combater a cultura negra quando a escravidão acabasse.
Pito de Pango, assim era chamada a maconha fumada em cachimbo pelas pessoas que viviam em Palmares, no Pernambuco.
No começo do século XX, a maconha começou a ser estudada por médicos, alguns deles chamados de racistas científicos. O principal deles: Rodrigues Dória. Dória era adepto das teorias eugenistas de superioridade entre as raças de Cesare Lombroso, também as aplicava às mulheres;
A saber, o italiano Lombroso disseminava a tese do "criminoso nato", ela basicamente dizia que pela análise de determinadas características somáticas seria possível antever aqueles indivíduos que se voltariam para o crime. Em sua principal obra, “O Homem Delinquente”, reafirma os princípios positivistas ao compor sua teoria com base nos aspectos evolucionistas do ser humano. Segundo Rabuffetti (1999), Cesare Lombroso afirmara que os criminosos possuíam características físicas, biológicas e psíquicas em comum, podendo essas serem designadas a padrões de delinquentes.
Lombroso concluiu que um indivíduo poderia ser considerado um criminoso delinquente nato caso apresentasse diversas características físicas que, segundo ele, seriam a assimetria craniana, a fronte fugida, as orelhas em asa, zigomas salientes, crânios menores, arcada superciliar proeminente, prognatismo maxilar, face ampla e larga, anomalias dos órgãos sexuais, cabelos abundantes, estatura alta, braços excessivamente longos, mãos grandes, insensibilidade física, a analgesia, o mancinismo (uso preferencial da mão esquerda), o ambidestrismo (uso indiferente das mãos) e a disvulnerabilidade, que é a recuperação rápida de traumas físicos sofridos pelo indivíduo. Em relação às mulheres com potencial criminoso, foram atribuídas características relacionadas a traços de masculinidade, como cordas vocais grossas, excesso de pelos corporais e verrugas.
Apesar das teorias modernas a respeito do crime formadas pela Escola Alemã da criminologia desconsiderarem os estudos eugênicos de Lombroso, atribuindo a esses diversas críticas ao redor do continente europeu, foi na América Latina que as ideias do “Homem Deliquente” receberam grande número de adeptos, quando se iniciou no hemisfério sul os estudos relacionados a criminologia. Sem levar em conta as críticas atribuídas às ideias de um criminoso nato na Europa, estudiosos brasileiros como Viveiros de Castro, João Vieira de Araújo e Dória divulgaram amplamente os estudos de Lombroso, afirmando que esses seriam de ampla importância para o entendimento dos delitos e dos delituosos.
No brasil, Dória associava a planta a uma espécie de vingança dos negros “selvagens” contra os brancos “civilizados” . Ele chamava a maconha de “vingança dos vencidos” e defendia que as festas e comemorações africanas deturpavam a sociedade branca. Informações do livro “Drogas: A história do proibicionismo”, de Henrique Carneiro .
Não havia a intenção internacional de criminalizar a planta, apenas o ópio, morfina, cocaína e derivados eram ilegais. Porém Dória decidiu levar os seus estudos para Washington (EUA), no Congresso Científico Pan-Americano. Na ocasião ele comparou os efeitos da maconha ao ópio. O estudo se chamava “Os Fumadores de Maconha – Efeitos e Males do Vício”. Segundo Dória a planta causava alucinações e vício degenerativo que resultava em delírios agressivos, “onde indivíduos praticavam violências de crimes indo da loucura transitória para a definitiva em pouco tempo”.
Além dos EUA gostarem da idéia de controle de massa, um aluno de Dória, o delegado brasileiro Jarbas Pernambuco, defendeu a proibição da maconha na Segunda Conferência Internacional do Ópio, em Genebra (Suíça). Segundo Jarbas a cannabis era um “problema de violência” para o Brasil. Dois anos se passaram e em 1932 a maconha passou a ser proibida no mundo inteiro. Sim, por causa de um brasileiro!
A partir disso, o proibicionaismo passou a ser apenas uma das engrenagens para o controle social e não questão de saúde pública. As mídias brasileiras começaram a usar a palavra “maconheiros” de forma pejorativa, veiculava frequentemente que aqueles que fumavam eram pessoas imorais, “vagabundas e arruaceiras”;
Em 1.936 a comissão nacional de entorpecentes foi criada. Nos anos 40, mesmo ano de reconhecimento da umbanda como religião oficial, os terreiros que insistiam em usar maconha foram perseguidos, alguns fechados;
Durante a ditadura militar, estudantes da classe média começaram a fumar maconha, em 1976 políticos militares decidiram endurecer as Leis de Drogas, não havia mais diferença entre substâncias ilícitas, todas foram colocadas no mesmo bojo . Acabou a diferenciação entre usuários e traficantes , todo mundo que portava maconha ia preso, o que culminou no encarceramento em massa dos brasileiros e brasileiras, sobretudo, de pele negra;
O número de pessoas negras presas cresceu entre 2005 e 23019, saltando de 58,4% para 66,7% dos presos no país;
Entre janeiro de junho de 2022 o Brasil registrou que a maior população carcerária através das Leis de drogas é a feminina, correspondendo a 58,85%, enquanto que a masculina é 27,68%, ou seja, mais mulheres são presas por causa do proibicionismo em relação aos homens;
A atual situação do Brasil é que nas periferias brasileiras há mortes de crianças, adultos e idosos por bala perdida, por causa da suposta “guerra às drogas”, muitas pessoas são retiradas de suas casas, tomam batida policial à toa, são confundidas com traficantes, agredidas e até mortas.
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