O baterista Rogerio Pinheiro, de 51 anos, vem quebrando padrões dentro da música rio-pretense. “Nunca fiz meu instrumento de muleta”, disse sobre a importância de estudar para se destacar como um bom profissional.
Formado pela Drum Institute, em São Paulo (SP), Rogerio é um exemplo de superação na totalidade da palavra. Não se limitando a ser apenas um músico com visão sub-normal, ele quis ir além, se destacando pela excelência nas técnicas do instrumento.
“Compreendo, pois sinto na pele, todas as dificuldades que uma pessoa com deficiência física enfrenta para ser inserida na sociedade, mas eu escolhi não fazer da minha limitação uma desculpa para ser um músico medíocre, eu queria ir além e estudei muito para tocar bem. No caso das minorias isso é um pouco cansativo, ter que provar que você pode ser o melhor, mesmo que a maior parte da sociedade acredite no contrário, mas não me arrependo de todos os limites que superei para, sem modéstia, tocar bem”, disse o músico.
Ao longo da vida Rogerio precisou ser forte para lidar com o preconceito, quando era jovem os diálogos sobre capacitismo eram menos evoluídos. Ouviu por diversas vezes que não seria capaz de progredir na vida. Poucos eram os dispositivos ou esforços das autoridades para que uma criança ou adolescente portadora de alguma deficiência física pudesse estudar.
“Quando eu era criança eu ficava batucando o tempo inteiro em casa, usava objetos para imitar os bateristas que ouvia no rádio, gostava muito de rock (ainda gosto). Mas quando comecei a estudar com o instrumento, um horizonte se abriu pra mim, vi que não bastava vontade de tocar, demandava maiores esforços. Tive a sorte de ter um professor virtuoso, o Tio Magno, que acompanhou grandes artistas, entre eles a Elis Regina”, destaca.
Atualmente algumas tecnologias assistivas facilitam a vida dos portadores de deficiência visual (PDV). O TalkBack, por exemplo, dispositivo obrigatório em todos os celulares androides, ajuda a identificar publicações realizadas nas redes sociais, interações e troca de mensagens.
“O diálogo sobre o capacitismo está em voga, porém antes disso precisamos acertar alguns pontos, a autoestima e o olhar social da pessoa com deficiência é importante. Muitos se apegam aos dons ou tentam ser pessoas mais agradáveis para conseguir conquistar outras pessoas e saírem de seu universo, que na maioria é muito solitário.
O que eu quero dizer é que, você não precisa só ir tocar nas festas das pessoas ou ter algo a oferecer para ser aceito, as pessoas precisam gostar de você pelo o que você é, como você é e não pelo que você tem a oferecer no sentido físico. Eu fico muito feliz quando recebo um convite para tocar no casamento de um amigo que me considera de verdade, mas me afasto das pessoas que só querem se aproveitar. Porque me sinto muito capaz tanto de tocar meu instrumento, como de ser uma pessoa interessante de se conhecer”, enfatizou Rogerio Pinheiro.
O músico também é produtor e apresentador do canal de podcast "Meia Luz", no Spotify, em que aborda o universo das pessoas que convivem com deficiência visual.
Há entrevistas e histórias de superação de pessoas de partilham das mesmas dificuldades de Rogerio.
Já faz parte da natureza do músico ser mais exigente consigo mesmo. Ele é autocrítico e está sempre em busca de melhorar na sua profissão.
“Eu sei o que passei quando participava de orquestras e precisava ler partituras com lupa para conseguir executar bem meu trabalho. Às vezes outros músicos riam de mim, então por isso passei a estudar mais, e assim tem sido até hoje.
Mesmo alguns artistas conhecendo meu potencial, às vezes preferem convidar pessoas entendidas por eles como “normais”. Tem horas que sinto como se minha presença incomodasse e que eu não deveria fazer parte de determinadas coisas. Mas eu nunca desisti por isso.
Estudo cerca de duas horas por dia, já estudei mais (risos). Eu acho importante que o músico tenha boas referências, mas inovar é sempre positivo. Tento fazer os dois, sem danificar a música, eu respeito muito a música”, contou.
Entre os dias 23 e 24 de março, Rogerio Pinheiro estará à frente de duas oficinas de bateria, presenciais e gratuitas em Rio Preto.
Os eventos acontecerão no Estúdio Gambs, localizado no bairro Boa Vista. Interessados devem se inscrever até a próxima sexta-feira, 18 de março. É livre para todos os públicos.
Rogerio Pinheiro escolheu duas técnicas para abordar durante as oficinas: técnicas Double Strouke, popularmente conhecida como Papa Mama e de pés e chapa (Heel Up e Heel Down).
As oficinas de bateria oferecidas pelo músico são realizadas com os recursos da Lei Aldir Blanc, Lei 14.017/2020, através da Secretaria de Cultura de São José do Rio Preto (SP).
Evento: Oficinas de bateria gratuitas em Rio Preto
Professor: Rogerio Pinheiro
Vagas: 15
Datas e horários: 23/03/2022, das 18h às 19 h e dia 24/03/2022, das 19h às 20h
Onde se inscrever: aqui
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