O mês de março é marcado por campanhas que alertam para os perigos da obesidade. Aliás, a data de 4 de março é o Dia Mundial da Obesidade. O problema afeta milhões de pessoas em todo mundo e os índices aqui no Brasil não param de subir.
Tecnicamente falando, a obesidade é geralmente causada pelo sedentarismo e consumo exagerado de alimentos ricos, principalmente, em açúcar refinado e gordura.
“A obesidade gera diversos malefícios na vida pessoal, como o desenvolvimento de várias doenças: diabetes, pressão alta, alterações do colesterol, entre outras. Por ser uma doença inflamatória sistêmica, também altera a parte hormonal e cognitiva. Pode estar atrelada, ainda, à indisposição e a baixa autoestima, o que gera, nesses casos, sérios problemas emocionais”, explica o cardiologista e médico do esporte, Dr. Carlos Portela.
De acordo com o profissional, o índice de obesos no Brasil que já vinha crescendo, aumentou ainda mais nos últimos dois anos e a pandemia da Covid-19 foi um dos fatores principais para esse crescimento. “A pandemia contribuiu com esse aumento exponencial. Isso porque a maioria das pessoas se tornou mais sedentária nesse período, devido à falta de locomoção e mobilidade. Muitos começaram a trabalhar no esquema de home office e passaram a se movimentar menos”, pontua o médico.
E para piorar a situação, as pessoas passaram a se locomover menos e aumentaram o consumo de fast food, e comidas via delivery, que na maioria das vezes não são lá muito saudáveis. “A mudança da rotina, o aumento do consumo de bebidas alcoólicas, a alteração da rotina do sono, da hora de dormir... Tudo isso contribuiu para o aumento no número de pessoas com sobrepeso ou obesidade no período da pandemia. E nos últimos anos, no Brasil, tivemos um aumento de quase 72% no índice de obesos ou indivíduos com sobrepeso. Para se ter uma ideia, saímos de 11,8 % em 2006 para 20,3% em 2019. Já a porcentagem de pessoas acima do peso saltou de 42,6% para 55,4% no mesmo período. Isso são dados de um levantamento da ABESO (Associação Brasileira Para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica)”, alerta o Dr. Portela.
Outro dado importante da pandemia, de acordo com um estudo coordenado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas, Nutrição e Saúde da USP, mostra que pelo menos 20% dos brasileiros ganharam, pelo menos, dois quilos nesse período pandêmico. “Isso devido ao isolamento social, o que elevou o sedentarismo. Portanto, pessoas que antes praticavam atividades físicas, não conseguiram fazer mais com tanta frequência. A alimentação ficou desregulada, desregrada, muitos alimentos industrializados, com maior teor de calorias e o aumento considerável do consumo do álcool”, ressalta o médico.
E a obesidade acaba levando a outros sérios problemas de saúde, principalmente se não for levada a sério e tratada da forma adequada.
Além dos problemas cardiovasculares, já bem conhecidos, o excesso de peso piora o índice de doenças de quadros emocionais. A obesidade causa, ainda, refluxo, síndrome do intestino irritável (patologia bem comum e que tem origem psicossomática), quadros de diarreia, dor abdominal e excesso de gases. “A obesidade pode alterar a parte hormonal, levando a quedas de hormônios importantes para o organismo e, consequentemente, mais fadiga, cansaço e queda de libido”, explica o especialista.
A boa notícia é que a obesidade pode sim ser revertida e tratada, mas para isso é preciso força de vontade, dedicação e um tratamento multidisciplinar. E, como qualquer doença crônica, o tratamento é em longo prazo e não existem fórmulas ou medicamentos milagrosos. Portanto, fuja disso!
“O uso de medicamentos é necessário em momentos específicos do tratamento. Em muitos casos precisamos utilizá-los para tentar reverter alterações metabólicas importantes e auxiliar na aderência do paciente à jornada do tratamento. O que faz o paciente ter resultados satisfatórios é entender o processo e trilhar o caminho da construção de hábitos. Criar uma dependência medicamentosa ou medidas de padrões alimentares restritivos vão de oposto à construção de hábitos saudáveis. Por isso, nosso papel hoje é proporcionar entendimento e quebrar tabus, simplificando o processo e fazendo o paciente sentir e enxergar o que significa realmente ter saúde”, explica o Dr. Carlos Portela.
“Além da mudança do estilo de vida, é preciso ter um ajuste no planejamento alimentar e de atividades físicas. Também é preciso haver uma melhora da saúde intestinal, acompanhamento do ponto de vista emocional, melhora da qualidade do sono, e apoio psicológico. Tudo isso está relacionado ao nosso trabalho”, diz o cardiologista, que coordena equipes de profissionais em São Paulo, em que todos estão alinhados no processo especial de conhecimento da dinâmica do paciente e do dia a dia dele, sempre de forma individual e personalizada.
“É muito importante ter em mente que, alguns fatores, vêm desde a infância da pessoa com obesidade, e esses problemas emocionais perduram até a vida adulta. É preciso olhar o paciente como um todo: emocional, psicológico, orgânico”, esclarece o profissional.
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